domingo, janeiro 30, 2011

Entre a Times Square e a Paulista

Os Estados Unidos são o país do entretenimento e da diversão, certo? humm, not quite. 
Toda data comemorativa aqui me faz pensar que é o Brasileiro mesmo que sabe fazer festa. Seja aniversário, casamento, batismo, Natal, ano novo, e agora por vir, o carnaval! tudo aqui em cima fica meio sem graça. E o estranhamento não parte só de mim, posto que leio vários blogs de imigrantes como eu, principalmente os recém-chegados, que se surpreendem com as comemorações insossas dos americanos, enquanto eu assisto, ou melhor, leio tudo só pra confirmar minha hipótese. Vamos ao desenvolvimento desta: 

Festa de criança americana (rica ou menos rica, of course) não tem salgadinho, nem brigadeiro, nem crepe, nem algodão doce, nem balão, nem mesa decorada, nem os primos, nem todos os amigos da classe e nem aquelas animadoras que tocam o cd da Xuxa 35 vezes durante a festa (acho que essa parte é dispensável) e fazem brincadeiras dos anos 80 (organizando pretty much everything enquanto os pais enchem a cara). Também não duram 5, 6 horas com direito a jantar e sobremesa. O máximo que se vê aqui é uma festa que dura 1 hora e meia (e se prepare pra ser denunciado por abandono de menor se você não estiver lá para buscar seu filho exatamente na hora marcada). A comemoração pode ocorrer em uma academia de ginástica infantil, ou em um estúdio de fazer cerâmica (sim, é sério), ou num rink de patinação, ou num desses salões de jogos, ou é um banho de piscina, e vai durar uns 40 minutos, sendo o restante reservado para comer uma pizza e um pedaço de bolo. And that´s all folks. É a coisa mais besta e boring ever, que não dá trabalho a ninguém e custa uma fortuna. Desde que eu cheguei aqui eu criei o sonho de levar minhas crianças para um aniversário infantil no Brasil, até dos pequenos de família mais humilde. Pobre, I mean, os desfavorecidos financeiramente (tenho que me adaptar a onda do politicamente correto antes que twittem isso e me prendam por preconceito!) é que sabe se divertir mesmo!

E o reveillon na Times Square? Venha se você não se importar em não ter conforto, alegria, espaço, champagne, comilança. Quem precisa disso na virada?!
Quer entender? esqueça por uns segundos que estamos falando de NY e se imagine em SP, mais especificamente na Paulista. Você iria pra lá se não pudesse beber? se a temperatura chegasse a -17 graus Celsius? Se tivesse que chegar lá várias, várias horas antes e esperar, em pé, no mesmo lugar?sem poder ir ao banheiro ou ir comer? e para que? Para ver uma bola com luzes que desce de um prédio, durante uns 15 minutos, e uns showzinhos playback meia boca de uma galera que não queria estar cantando? N-A-O-til, Não. Pois um milhão de pessoas foram e a metade, os estrangeiros, devem ter detestado. Lógico. Como opção você pode pagar no mínimo 100 dólares pra ir num club escutar hip hop a noite inteira com o lixo da cidade, ainda sem nada incluso. E feliz ano novo. Sem fogos.

A véspera de Natal é, na maioria das casas, ignorada. Se tem jantar no dia 24, a família é provavelmente descendente de algum país que comemore, como o Brasil. Janta-se e a meia-noite trocam-se os presentes, que são o orgasmo do americano, já que o país aqui é cheio de pessoas que consumem desesperadamente o ano inteiro e no Natal eles se permitem mais ainda. Depois todo mundo dorme. Dia 25 é breakfast com todo mundo e a insanidade dos brinquedos e presentes que o bom velhinho traz - velhinho esse que aqui é excelente, sensacional, porque no Brasil ele leva um brinquedo massa, e aqui ele traz muitos, vários, pilhas. Ninguém reza, ninguém canta, ninguém ensina significado pra criançada, que ainda chora porque não acha suficiente. Dá nojo.

Para um batizado eu nunca fui, mas tenho medo de que a água benta seja mineral e saia de uma cachoeira, já que tudo aqui é exagerado, e que seja o Papa himself que batize...se bem que depois do Gugu ter sido batizado no rio Jordão pelo Padre Marcelo Rossi não dá pra criticar a megalomania americana. Me calo, então.

E por fim, o carnaval. Já tive a experiencia de participar de uma comemoração do equivalente americano no lugar menos improvável: uma escola judia. Oi? sinistro,eu sei,mas aqui em New jersey, por exemplo, há várias famílias judias que celebram o Purim. Talvez esteja pecando aqui em comparar, já que esse feriado comemora a salvação dos judeus e o carnaval comemora...comemora o que mesmo? ah o que eu to querendo dizer é que as crianças se fantasiam e dançam umas músicas hebraicas. Grreeeat!

Entretenimento é temporário, é um produto, é tecnológico. É um show na broadway, é a Disney, é Hollywood, ABC e NBC e seus shows, é líder de torcida em jogo e toda a aparelhagem e a grana que isso acarreta. Festa é mais que o motivo, é nossa, é espírito, é cultural, e existe com ou sem dinheiro, porque sempre há o que comemorar.

Só tem uma festa aqui que é melhor que a nossa! Que reúne todo mundo, nas melhores roupas, com fartura de comida e bebida. Muito sorrisos, palavras doces, música e compaixão. Alguém se interessa?  So don´t smile and please wear black. 


domingo, janeiro 16, 2011

Let it snow and let it shine

It's been a hard week, here and in Brazil. I started my week complaining about hearing bad words from people you love, joined by some awful news from the weather channel. More snow? you have got to be kidding me!! I am NOT getting stuck at home waiting until they plow those stupid roads!!!!

Turns out I did have to stay home and watch tv the whole day.

Since I asked my host dad to order the brazilian channel Globo, I spend most of my (tv shows orphan) nights watching it, not because I like it, but because I'm addicted and somehow it makes me feel closer to Brazil. And now my snow days. Lately I've been homesick, and I blame it on winter and the cold, making me want to enjoy a day at the beach, to feel the sun on my face and to relax in Fortaleza's warm sea, eating whatever food could not be found in the US.

Boy,maybe this week I'm glad I'm not there, it was my first thought when I heard that the summer rain were ruining my friends weekends. It was when I turned the channel on and saw that it had been raining for days and a lot more than 2days getaways had been ruined. In the meantime, it snowed again outside my window. If only the water there could freeze.

Watching the 'tsunami that felt from the sky', as one of the victims described it, I cried and cried, mostly out of remorse. How could I be mad about the snow when liquid water washed away towns, cars, houses and lives? How can I let winter make me sad ? Paradise turned into hell in minutes. Rivers turned into a sea of mud, destroying from the small weak favela houses to the three-floored mansions; dragging car, buses, houses, bridges, roads. I felt sick every time I saw the dead poll rise. Over 200, over 300, over 600,so far. So far.
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All the pictures, the videos, the interviews shocked me and made me try to imagine what is like to lose everything. To lose everybody, like a woman that lost 11 relatives. And lose to nature. It's unthinkable and surreal, it's one of those things you cannot see it happening to you or anyone you know.Like the journalist Evaristo Costa said about going through a panic rush after some idiot spread a rumor that another flood was about to happen: "Just think of that nightmare you have that you're sunbathing at the beach and suddenly you see a huge wave in the horizon, coming in your direction, faster than you could ever run". I wonder if it's anything like the fear you feel when you can't find a kid in a mall for one minute, I add, and make that minute hours.

The time now it's not for blaming the old or new president, or the skies, or the accelerated and disordenated growth of the favelas - by the poor, or of the illegal occupation of the mountains in Teresopolis - by the rich. Or even the climate changes like global warming. Not when there are still thousands of people isolated. It's time for mutual support, and we brazilians can sure do that well.

It's surreal, it's sad, but I had to say something about it. I had to say let it snow here and let the sun shine there. My thoughts and prayers to you, Rio.

terça-feira, janeiro 11, 2011

A primeira merda do Ano Novo

Sim, confesse, você também prometeu para você mesmo não cometer os mesmo erros do ano passado. Não perder tanto tempo com bobagens (ou perder mais tempo com bobagens), fazer exercícios físicos, fazer aquele curso que você queria há tanto tempo, não fumar mais (ninguém aguenta mais ter que ficar do lado de fora da balada com você enquanto você fuma), guardar uma grana, investir em alguma coisa, não cair na conversa mole daquele cara que parece ser super legal mas tem aquela carinha de jerk.

E você começou muito bem, all hopeful, fazendo tudo direitinho, passando mais tempo com a família, se divertindo com os amigos, fazendo caminhada, procurando novos rumos para sua vida profissional, mas, eis que chega o belo dia, a primeira merda do Ano Novo. O primeiro cigarro que você fumou, afinal se estressou, quem não se estressa com o trânsito de São Paulo? Brigou com aquele seu amigo, damn it, você até tentou ser mais tolerante, perdeu a data de inscrição do curso de francês, ou pode ser uma merda ainda maior, como cair na conversa daquele cara, o que tem cara de jerk.

Sim, acreditou que ele ia mesmo te ligar depois daquele jantar de negócios, ficou um tempão enrolando na Livraria Cultura (afinal é um dos seus lugares preferidos na Paulista) só que a livraria fecha às 22:00 horas. Tudo bem, você poderia enrolar mais um pouquinho no seu outro lugar preferido, ali pertinho da Paulista, se não tivesse caído a chuva do século. Você é obrigada então a ficar ali embaixo do toldo com mais duas pessoas perdidas e uns turistas que achavam tudo lindo e tiravam fotos fretenicamente, talvez nunca viram uma chuva daquelas na vida e talvez realmente achem Skol a melhor cerveja do mundo. Checa o seu celular, ainda nenhuma ligação, nenhuma mensagem. Ok, admit it my friend, you’ve been stood up. E a chuva do século não vai parar nem tão cedo, então você decide que é a hora de correr na chuva mesmo, porque você não pensou nisso antes e estacionou mais perto? Como tudo na vida tem um lado bom, pelo menos você tinha um guarda-chuva, conseguiu chegar no seu carro e acabou tendo uma noite super agradavél na casa daquela melhor amiga, ah os amigos, e vai começar o ano lendo os livros que você queria tanto ter lido no ano passado.

Não importa qual tenha sido a primeira merda, nem tudo está perdido, o seu lindo sapatinho novo talvez sim, mas foi apenas a primeira merda do ano, shit happens, right? Só para que você recorde que prometeu fazer diferente desta vez, não importa se em São Paulo ou em Jersey ou em qualquer outro lugar, como disse o poeta é dentro de nós que o Ano Novo cochila e espera desde sempre. E dizem que nunca é tarde para começar não é mesmo? As resoluções de ano novo ficam valendo a partir de agora, trying to keep up, trying to do it differently, still hopeful that 2011 will be just amazing.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

2010 vezes menos

Dois mil e dez acabou e com ele foi-se uma década. Ano ímpar, mês ímpar e um número ímpar de resoluções entope as agendas, planners, diários e os profiles e status do mundo moderno. Eu só clico no ´like´ e demonstro o meu apoio, tentando não me afetar pelo fato de que eu gosto das resoluções de todo mundo, mas não tenho fé para criar as minhas. 

No entanto, ontem eu não consegui fugir. Passava das 11 horas, o que é past my bed time, e eu me deixei levar e comecei a pensar. Lembro de quando eu era criança e passava o reveillón com meus pais, que ainda eram casados. Sempre perto da meia-noite, papai e mamãe, já levemente alcoolizados como de costume no Brasil, abraçavam e beijavam os amigos, irmãos, cunhados, cunhadas e balbuciavam: " saúde, muita saúde, né? pra todo mundo! Muita paz, coragem e sorte...e dinheiro de sobra". 

Na minha santa ingenuidade, eu balançava minha cabeça de um lado para o outro e criticava a mediocridade dos meus pais e familiares, ao mesmo tempo em que eu fazia mil planos como passar de ano sem recuperação, de dar um jeito no meu cabelo, de aprender a tocar um instrumento, de falar outra língua, de escrever poesia, de voltar pra ginástica, de ser muito boa em algum esporte, de aumentar meu círculo de amizade, de chamar a atenção do garoto mais bonito da sala de qualquer jeito". 

E dai eu fui envelhecendo, fui crescendo, fui amadurecendo. Fui ficando de recuperação porque queria aproveitar mais a vida, mas passava de ano. Fui superando o ódio pelas futilidades da minha mãe e entendendo que eu realmente, apesar de ter cabelo bonito, precisava cuidar do resto de mim, porque as pessoas te julgam, sim, pelo seu exterior, ainda que eu quisesse escrever poesia. Percebi que meus pais não tinham dinheiro para me colocar na ginástica, no violino, no inglês e no francês, no basquete e que se eu quisesse eu ia ter que aprender sozinha. E isso com esforço se consegue, o que me fez perceber o porque deles pedirem coragem. 

Ao final da minha adolescência entendi o porque do pedido da sorte, que é necessãria em qualquer trabalho. Fui entendendo, ao ver minha avó com cancer, o medo que meu pai deve ter sentido quando perdeu um rim aos 23 anos, com uma filha de 2 pra criar, e porque ele queria tanto ter saúde.

Os diários ficaram menos coloridos, sem papel de bombom, sem ingresso de show e de cinema. Vieram as agendas, depois as agendas maiores e até aquelas com horas, os planners, os quadros de cortiça com anotações. Vieram os sonhos, as frustrações, os planos, e mais frustrações, as tentativas e as desitências. O sucesso e as dificuldades, que sempre pareciam maiores, maiores, maiores, até que eu fugi.

Pra New York e New Jersey, mas poderia ser pra São Paulo, como faz o retirante nordestino. Hoje entendo a preocupação da minha mãe quando eu descobrisse que cotidiano é pra sonho igual ao casamento é pro amor, e que ela, sim, estaria disposta a me receber de braços abertos, como todo bom brasileiro. "Live in new york city once, but leave before it makes you too hard", me disse meu tio, a quem eu retribui revirando os olhos. Claro que ele estava certo. 

Verdade é que a gente nunca sonha com a realidade. Mas sonho não se perde, se transforma, muda de figura, por exemplo. . E esse sonho foi mudando e dando origem aos outros, que muitas sabem, e outros irão descobrir aqui. 

Portanto, meus caros, pra 2011? Tudo menos que em 2010, e mais um de tudo diferente: 10 vezes menos dor, e mais um dia de saúde. 10 vezes menos paixão, e mais um dia de raciocínio. 10 vezes menos sufoco, e mais um dia de respiração tranquila. 10 vezes menos frio, e mais um dia de calor e aquecedor. 10 vezes menos depressão, e mais um dia de auto-controle. 10 vezes menos agonia, e mais um dia de paz. To all of us, now and when you realize it.