segunda-feira, janeiro 10, 2011

2010 vezes menos

Dois mil e dez acabou e com ele foi-se uma década. Ano ímpar, mês ímpar e um número ímpar de resoluções entope as agendas, planners, diários e os profiles e status do mundo moderno. Eu só clico no ´like´ e demonstro o meu apoio, tentando não me afetar pelo fato de que eu gosto das resoluções de todo mundo, mas não tenho fé para criar as minhas. 

No entanto, ontem eu não consegui fugir. Passava das 11 horas, o que é past my bed time, e eu me deixei levar e comecei a pensar. Lembro de quando eu era criança e passava o reveillón com meus pais, que ainda eram casados. Sempre perto da meia-noite, papai e mamãe, já levemente alcoolizados como de costume no Brasil, abraçavam e beijavam os amigos, irmãos, cunhados, cunhadas e balbuciavam: " saúde, muita saúde, né? pra todo mundo! Muita paz, coragem e sorte...e dinheiro de sobra". 

Na minha santa ingenuidade, eu balançava minha cabeça de um lado para o outro e criticava a mediocridade dos meus pais e familiares, ao mesmo tempo em que eu fazia mil planos como passar de ano sem recuperação, de dar um jeito no meu cabelo, de aprender a tocar um instrumento, de falar outra língua, de escrever poesia, de voltar pra ginástica, de ser muito boa em algum esporte, de aumentar meu círculo de amizade, de chamar a atenção do garoto mais bonito da sala de qualquer jeito". 

E dai eu fui envelhecendo, fui crescendo, fui amadurecendo. Fui ficando de recuperação porque queria aproveitar mais a vida, mas passava de ano. Fui superando o ódio pelas futilidades da minha mãe e entendendo que eu realmente, apesar de ter cabelo bonito, precisava cuidar do resto de mim, porque as pessoas te julgam, sim, pelo seu exterior, ainda que eu quisesse escrever poesia. Percebi que meus pais não tinham dinheiro para me colocar na ginástica, no violino, no inglês e no francês, no basquete e que se eu quisesse eu ia ter que aprender sozinha. E isso com esforço se consegue, o que me fez perceber o porque deles pedirem coragem. 

Ao final da minha adolescência entendi o porque do pedido da sorte, que é necessãria em qualquer trabalho. Fui entendendo, ao ver minha avó com cancer, o medo que meu pai deve ter sentido quando perdeu um rim aos 23 anos, com uma filha de 2 pra criar, e porque ele queria tanto ter saúde.

Os diários ficaram menos coloridos, sem papel de bombom, sem ingresso de show e de cinema. Vieram as agendas, depois as agendas maiores e até aquelas com horas, os planners, os quadros de cortiça com anotações. Vieram os sonhos, as frustrações, os planos, e mais frustrações, as tentativas e as desitências. O sucesso e as dificuldades, que sempre pareciam maiores, maiores, maiores, até que eu fugi.

Pra New York e New Jersey, mas poderia ser pra São Paulo, como faz o retirante nordestino. Hoje entendo a preocupação da minha mãe quando eu descobrisse que cotidiano é pra sonho igual ao casamento é pro amor, e que ela, sim, estaria disposta a me receber de braços abertos, como todo bom brasileiro. "Live in new york city once, but leave before it makes you too hard", me disse meu tio, a quem eu retribui revirando os olhos. Claro que ele estava certo. 

Verdade é que a gente nunca sonha com a realidade. Mas sonho não se perde, se transforma, muda de figura, por exemplo. . E esse sonho foi mudando e dando origem aos outros, que muitas sabem, e outros irão descobrir aqui. 

Portanto, meus caros, pra 2011? Tudo menos que em 2010, e mais um de tudo diferente: 10 vezes menos dor, e mais um dia de saúde. 10 vezes menos paixão, e mais um dia de raciocínio. 10 vezes menos sufoco, e mais um dia de respiração tranquila. 10 vezes menos frio, e mais um dia de calor e aquecedor. 10 vezes menos depressão, e mais um dia de auto-controle. 10 vezes menos agonia, e mais um dia de paz. To all of us, now and when you realize it.

Um comentário:

  1. Meninas, eu amei! Já sou seguidora.
    Texto bem escrito, e embora a minha história seja bem diferente, me identifiquei com as emoções. Fiquei com vontade de ler mais.
    Beijos e sorrisos!

    ResponderExcluir